Pequenos Hábitos

 Hoje eu não escrevo com saudade. Nem com carinho.

Escrevo com um nó preso na garganta e o coração mais firme do que nunca.
Já não é dor desesperada, nem desespero implorando por respostas.
É silêncio. É consciência. É o cansaço de quem foi até o limite de si mesma.

Talvez você nem perceba  ou não se importe mas tem algo dentro de mim que está mudando.
Ou talvez já tenha mudado, e você simplesmente não acompanhou.

Hoje fiz o que evitei por tanto tempo: revirei o que ficou pra trás.
Fuçar, procurar, cutucar a ferida que eu fingia não existir.
Não porque eu queria respostas. Mas porque, lá no fundo, eu precisava de um empurrão final pra me libertar.
E como sempre, encontrei o que não queria ver. A gente sempre encontra.
A verdade tem esse dom de aparecer quando o coração já está cansado demais pra fingir.

O mais estranho? Não foi a dor.
Foi o vazio.
Foi perceber que eu não ligo mais.  Não surtei.
Apenas senti tudo escorrer pelas minhas mãos… como areia seca.
Sem peso, sem luta.
Apenas indo embora.

E naquele instante, uma ficha caiu.
Eu não me importo mais como antes.
A fase de me preocupar passou.
A fase de tentar, de insistir, de esperar que o outro mude, também.

Hoje, pela primeira vez em muito tempo, eu me escolho.
E o mais importante: sem culpa.

Podem dizer que é frieza.
Podem achar que é egoísmo.
Mas só eu sei o quanto me doeu carregar expectativas que nunca saíram do papel.
Só eu sei quantas vezes esperei ser prioridade de alguém que nem me incluía nos planos.
Só eu sei quantas noites perdi tentando entender o que não tinha explicação.

Minha paz agora é prioridade.
E se isso for egoísmo, que bom.
Porque antes, eu me doava demais.
E em troca, recebia migalhas  quando recebia.

Cansei de me perder tentando me encaixar no espaço que sobrou na vida dos outros.
Cansei de apostar em quem não faz questão de ficar.
De insistir em quem não demonstra o mínimo de cuidado.

Hoje não espero mais que você enxergue o que tem aqui.
Nem espero que venha atrás.
Na verdade, eu não espero mais nada.
Não de você.

Se um dia você quiser saber onde me perdeu…
Foi no momento exato em que eu percebi que mereço mais.
Mais atenção.
Mais presença.
Mais verdade.
E que posso ser mais  sozinha, inteira, e finalmente em paz.

— F.