Hoje eu acordei diferente.
Não sei dizer exatamente o que mudou.
Não foi o mundo. Fui eu.
Ou talvez tenha sido o jeito como o mundo me tocou hoje, de um jeito que eu não sei explicar, só sentir.
Acordei pensativa, distante.
Como se eu estivesse aqui, mas sem estar por completo.
O corpo levanta, faz o que precisa, mas a alma ficou em algum lugar entre o travesseiro e o último sonho que tive.
E o mais estranho é que ontem à noite eu estava bem.
Feliz até.
Satisfeita com a minha rotina, com o que tenho construído, com a mulher que tenho me tornado.
Mas a manhã chegou carregando um vazio que eu não convidei.
Um silêncio interno que incomoda, uma sensação de desconexão com tudo.
Pessoas, tarefas, planos... nada parece fazer sentido hoje.
E tudo bem, eu acho.
Só que é incômodo sentir isso.
Fico pensando se foram os sonhos.
Se algo que vi ou senti enquanto dormia ficou preso em mim e agora quer ser entendido, traduzido, digerido.
Mas não sei por onde começar.
Hoje, até as palavras me escapam.
Sabe aqueles dias em que o céu está limpo, o sol está brilhando, mas você jura que está chovendo por dentro?
É isso.
Hoje o mundo lá fora sorri, mas meu peito se encolhe.
E o pior é que eu nem tenho motivo claro pra isso.
E mesmo assim, sinto.
Sinto uma vontade imensa de voltar pra cama, me encolher, colocar uma série leve e ficar ali , quieta, invisível, esquecida por algumas horas.
Só eu, um cobertor e uma história que me distraia da minha própria.
Mas a vida não me permite isso agora.
Tem compromissos, demandas, coisas a fazer.
Então eu respiro fundo, coloco um sorriso no rosto, e sigo.
Mas queria que soubessem , ou talvez só eu mesma saiba, que por dentro hoje estou fragilizada.
Sensível.
Quieta demais até pra mim.
E o curioso é que normalmente eu desejo coisas.
Quero crescer, quero mudar, quero conquistar.
Mas hoje...
Hoje eu não quero nada.
Não quero conversa, não quero planos, não quero explicações.
Quero só o direito de me sentir assim, sem me julgar.
Tem dias que a gente só quer existir.
Respirar, passar por ele e esperar que amanhã venha diferente.
Com um novo ar, uma nova energia, um novo sentir.
E é nisso que eu me agarro.
Na certeza de que tudo passa.
Que esses dias cinzas também cumprem seu papel.
Eles nos ensinam a desacelerar, a olhar pra dentro, a entender que até o coração mais forte precisa de pausa.
Amanhã eu volto a sonhar alto.
Volto a querer tudo de novo.
Volto a sentir que pertenço, que estou no lugar certo, que sou feita de propósito.
Mas hoje...
Hoje eu só quero me permitir ser humana.
E lembrar que até os dias mais nublados têm sua beleza.
E mesmo quando tudo parece suspenso, desconectado...
Ainda existe fé em mim.
E ela sussurra baixinho:
"Vai passar. Já já, passa."
— F.
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